Quinta-feira, 23 de Julho de 2009

Feridas

Tenho pouca resistência à dôr... é a conclusão a que chego. Neste momento sinto que o meu coração ainda rasga; depois da primeira tesourada, é só puxar os dois extremos e lá vai, direitinho, como no tecido a metro.

Mas não sei se haverá muito mais a dilacerar: a não ser que seja por cima de antigas cicatrizes que, só elas, já devem cobrir quase toda a área do miocárdio.

Começou há 6 meses. Para ele, há cerca de 8, não sabia precisar... distraída como sou, nunca reparei em nada; ele também foi discreto q.b.. Em Janeiro, inícios, como quem não quer a coisa, e até bastante a propósito, convidou-me para almoçar. Era dia de "just girls" e recusei "talvez numa próxima". Nesse bendito almoço, roubaram-me a carteira e o telemóvel e ele foi muito prestável e preocupado.  Achei curiosa a bondade, já que me conhecia tão mal. Achei-o fora do comum e especial.

A partir daí foi como fogo no restolho... andou tudo demasiado depressa. Quando ele saiu de casa, quis que ficássemos a viver juntos. Eu achei que era melhor ir devagar, cimentar as coisas, deixar que tudo corresse naturalmente. As crianças, principalmente, sofreriam menos...

Mas ele passou a sofrer mais. Viu-se sozinho, depois de ter tomado a decisão (por ele, dizia) de se afastar de duas crianças que ele ama loucamente para, pensava ele, ficar juntinho a mim. Mas a minha parte racional estragou tudo. E não percebi que, depois desta nega, ele deve ter repensado a decisão, duvidado do meu amor, ter tido tempo para pensar que, apesar de mal, antes, estava com os filhos.

Resumindo: estraguei tudo!! E não me fiquei por aqui. Passado uns dias disse-lhe que talvez fosse melhor retomar os nossos hábitos de almoço, e voltarmos a almoçar com as pessoas do costume. Julgo que isto terá sido a gota de água. Ficou muito triste comigo, disse-mo, porque não entendia porque é que não podíamos almoçar juntos; que mesmo que os temas de conversa se esgotássem, nos tínhamos um ao outro. E deve ter duvidado dos meus sentiementos, novamente.

A partir daqui começou a escorregar no fúnil da vida. Desaparecia à noite, refugiava-se à beira-mar para pensar. Não atendia telefonemas. Por vezes dizia-me que o melhor seria desaparecer: assim, acabava com o sofrimento de toda a gente. 

Até que um dia, em finais de Maio, desapareceu por mais tempo que o costume. Enviou umas mensagens que me deixaram em pânico e, finalmente, uma mensagem de voz, em que dizia que era o fim. Ainda consegui falar com ele: parecia outra pessoa. Depois disso, desligou o telemóvel. Andámos à procura dele por tudo quanto era costa. Perto da meia noite, atende um telefonema e diz que está bem mas que quer ficar só. Na manhã seguinte, é encontrado inanimado em casa e entra de urgência no hospital...

Não preciso descrever como me senti... O curioso foi que, ao acordar nesse dia, tive uma sensação muito estranha... Depois da lavagem ao estômago, disse que me queria ver. Quando, no meio da balbúrdia das urgências, os nossos olhares se cruzaram, os olhos dele encheram-se de lágrimas. Eu tinha que ser forte: ainda não tinha parado de chorar mas, perante ele e toda a situação, tinha que ser forte! Agarrou-me as mãos e fazia-me festas na cara: apenas os seus olhos falavam. A "ex" entretanto chegou e ele continuava agarrado a mim. Disse que queria ficar comigo...

 Julgo que terá sido só o tempo de o sub-consciente ter vindo à tona pois, com o ganhar de consciência, começaram a voltar as dúvidas. Notava-se... Ao fim de mês e meio a viver juntos chego a casa e dou com ele à janela. Percebi que algo estava mal, uma vez mais. Nem reparei que ele tinha arrumado tudo... Já tinha todas as suas coisas no carro e queria falar comigo.

Desde o momento em que ele começou a desaparecer esporadicamente que não estou bem. Piorei um pouco a partir do dia das urgências, com a preocupação de que pudesse voltar a acontecer e por não o ver melhorar (apesar de ele se mostrar forte, a maior parte das vezes... mas eu sabia...).

Disse-me que não queria fazer sofrer ninguém, que não ia ser boa companhia, que precisava de, sozinho, pôr a cabeça em ordem. Fiquei aflita: como é que alguém com uma grave depressão pode ficar sozinho?! Disse-lhe, entre outras coisas, que apesar de não sermos casados, também aqui valia "na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,..." 

 

Isto foi um "abstract" do que poderá dar quase um livro....

 

Para, perante o meu coração ferido, poder bater no peito e dizer que a culpa foi minha!! ... Desde o ínicio! Por me ter deixado levar; por, depois, não ter querido assumir logo, etc... Agora estamos todos a sofrer: a família desfeita, eu e, principalmente, ele, que tem a cabeça num 8 e o coração... enfim...

sinto-me:
publicado por fraufromatlantida às 15:13
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