Sexta-feira, 17 de Agosto de 2007

Nuno Markl e a Geração dos 30... ou as Crianças dos 80´s.

Ouço este senhor desde os tempos da "comercial", com a Maria de Vasconcelos e a sua voz de menina cândida. Enviaram-me, por e-mail, o seguinte:

A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida. E está
perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje
rondam os trinta. O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando
lhe falei no Tom Sawyer. "Quem? ", perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é
o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A
própria música: "Tu que andas sempre
descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos
deixarás, aqui e além..." era para ele como o hino senegalês cantado em
mandarim.

Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não
conhece outros ícones da juventude de outrora. O D'Artacão, esse herói
canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil,
combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos
jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que
dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick
Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos
prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas,
lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical,
não é a mesma coisa. Naquela altura era actual... E para acabar a lista, a
mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração :

O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não
chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira.Quem, meu
Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.

Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não
passaram, o que os torna fracos: Ele nunca subiu a uma árvore! E pior,
nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um
dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando
brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos
que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos.

Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou
chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma
canção.

Confesso, senti-me velho...

Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem,
por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em
que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à
toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft.

Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca
andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um
miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer
exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer
tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes
tipo "Moleculum infanticus", que não existiam antigamente.

No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de "terno" nem
via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra
espalhada por cima não estancasse.

Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas,
porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura
aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na
droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num
prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para
a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração
que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos
chamavam geração "rasca"...

Nós éramos mais a geração "à rasca", isso sim. Sempre à rasca de dinheiro,
sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na
universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o
carro. Agora não falta nada aos putos.

Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se
juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é
Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo.

Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e
ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela
versão da bicicleta.

Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu
que 8 em cada dez putos sejam cromos.

Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava
porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas.

É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma
empresa de computadores, mas não curtiu nada...

 

À lista do Markl , atrevo-me a acrescentar alguns desenhos animados e séries:A Corrida mais Louca do Mundo, Candy Candy , Captain Caveman ,  Danger Mouse , Os Estrunfes , Os Marretas, Flinstones , Formiga Fenómeno, He-Man and She-Ra , Popeye , Sítio do Picapau Amarelo, Alf , Bonanza , Buck Rogers , Esquadrão Classe A, Fama, Family   Ties ,  Hill Street Blues, Kung Fu , Jovens Heróis de Sh Em Busca da Cidade de Ouro, Era uma vez a Vida, MacGuyver , Miami Vice, Modelo e Detective, Três Dukes , V - A Batalha Final, Zorro.

Eu e o meu irmão, ambos loucos por praia, obrigávamos, aos domingos, os meus pais a estarem em casa às 19h, para assistirmos, religiosamente, a algumas das séries supracitadas . Durante a semana, após o almoço, e antes de pegar nos TPC , havia o "Agora Escolha", também com estas séries. Feitos os deveres, íamos para a rua, juntarmo-nos ao resto da miudagem, para jogar ao vitória, ao mata, à semana, apanhada, escondidas, polícias e ladrões, ao prego, ao bugalho, etc. À noite ia a casa de uns amigos, que tinham um Spectrum, jogar Chuckie Egg (não havia muitos mais jogos de computador e este era uma descoberta recente), cartas, fazer construções em lego e parti-las de cima da cama e atirar sacos de água pela varanda. Tínhamos horas de deitar (sempre tivemos durante a semana, enquanto vivemos com os meus pais, até aos 17 anos) e havia coisas que não me deixavam assistir na TV. Mas eu voltava para espreitar as séries do Hitchcock , por detrás da porta, para voltar para a cama a tremer e com medo do escuro. Nos santos populares saltávamos a fogueira. Andava sempre com os joelhos e as mãos numa desgraça, e a caminho do hospital com suspeita de qualquer coisa partida; nunca parti nada, mas doía sempre muito. Em todos os lares havia, pelo menos, 2 cubos: uma black box (TV) e um pequeno de Rubik (que se rodava para pôr todas as faces da mesma cor). O telefone era fixo e de "disco" e ninguém se ligava 500 vezes por dia. Não se via putos mal-educados a não levarem correctivos; agora, são eles que "educam" os pais...

Os cabelos desafiavam a lei da gravidade, com as suas poupas cheias de laca ou gel. Na praia, pouca gente usava biquini.

Não me estou a lembrar de mais nada... Deixem as vossas memórias, se tiverem a acrescentar!

 


sinto-me: 80´s
publicado por fraufromatlantida às 15:45
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